sábado, 1 de novembro de 2008

Hoje é o dia!
Vou cortar bem o cabelo,
pintar os olhos
e mostrar o que não devia.

Vou fumar Lucky Strike até dizer 'Chega!'
Vou sair à rua e vou ser uma pêga!

Uma puta triste, ouviste?!

terça-feira, 28 de outubro de 2008

183 Ovelhinhas

Os olhos da canseira afundavam-se em Morfeu (e havia ainda tanto por fazer), mesmo assim, e já soletrando muito mal as letras, numa quase dislexia de intelecto, puxou para trás o cabelo irritante, mas não selvagem como alguém dizia e fez não sei o quê.

Levantou-se, pegou no cachecol cor de diferente, enrolou-o à volta do pescoço, bateu com a porta, desceu as escadas e saiu para o frio.

Na racionalização, já tinha chegado aos Aliados (só porque lhe apetece ir lá), disse qualquer coisa ao ardina da esquina, partilhou o movimento das idas e vindas de S. Bento e deixou-se levar rua abaixo, puxada pelo cheiro da Ribeira. Passou pelas Flores, e lá chegada sentou-se perto do Douro. Contou 183 dias, meio ano, como as ovelhinhas que o outro sussurra a contar os “Amo-te”.

- Toca, meu amor, toca.

- Toco tudo o que tu quiseres.

- Ah?! Tu aqui?!

- Estou onde tu quiseres que eu esteja, a imaginação é tua.

- Mas tu és real. És, não és?

- Se tu sabes que sim para que é que perguntas? Para deixar isto bonitinho? Um pseudo-fingimento prosaico para benefício de uma estética quase inexistente? Diz lá que me amas para haver um momento lamechas e deprimente.

- Não digo!

- Então não digas.

- Oh, mas eu amo-te.

- Eh eh, já sabia. Eu também.

- Tu também o quê?

- Eu também…

- Ah, está bem.

- Vamos embora que aqui está frio?

- Vamos sim.

Ele levantou-a, pô-la debaixo do braço e aqueceu-lhe o nariz com um beijinho. Ela merecia, afinal, quase lhe tinha estragado a queridice intelectualizada.

- Vai tocar, amor, vai tocar que o Django já está a acabar e amanhã é um novo dia. Boa noite.

E adormeceu.

quarta-feira, 10 de setembro de 2008

- Dás-me boleia para o meu funeral?

domingo, 17 de agosto de 2008

Vicissitudes

Na noite em que foram jantar fora,
O Mickey não quis comer nada.
Não gosta de bifes de golfinho
Nem nada dessa mariscada.
A Minnie,
Agoniada,
Não quis estrelas-do-mar às rodelas,
Diz que tem pena delas,
Coitada!

Ficaram-se pelas batatas fritas
Com pouco sal.
Hum hum, perdão, com muito sal.

Quem estava na mesa ao lado?
E assim descobriram
Que o Noddy e a Hello Kitty eram namorados.
Mas o Noddy não engana ninguém
Com aquele guizo no gorro.
Pobre da gata com lacinho,

É vítima de violência doméstica.

Num lugar ao canto,
O Kurt Cobain,
O Máriozinho de Sá-Carneiro
E o Padrinho
Precisavam de mais um
Para jogar à sueca.
A Minnie levantou-se,
A meio do seu milionésimo beijo ruidoso,
E foi juntar-se a eles.


O Mickey ligou ao Donald
Para irem ver o Allo Allo,
Que nesse momento
Comia McNonas com soporíferos
Enquanto dava chocolatinhos
À sua Margarida!

sexta-feira, 8 de agosto de 2008

"...temo a banalidade do dia que vai seguir como quem teme a cadeia. (...)
O meu desejo é fugir. Fugir ao que conheço, fugir ao que é meu, fugir ao que amo. Desejo partir - não para as Índias impossíveis, ou para grandes ilhas ao Sul de tudo, mas para um lugar qualquer - aldeia ou ermo - que tenham em si o não ser este lugar. Quero não ver mais estes rostos, estes hábitos e estes dias. Quero repousar, alheio, do meu fingimento orgânico. Quero sentir o sono chegar como vida, e não como repouso. Uma cabana à beira-mar, uma caverna, até, no socalco rugoso de uma serra, me poder dar isto."

Livro do Desassossego - Bernardo Soares

sexta-feira, 1 de agosto de 2008

'Is it a crime to be this cute?'

Não, não é.
Porquê? Tens problemas?
E se for?
Fofura é formusura.
Não, é 'pupi', vá.

Não me olhes assim,
de pés juntinhos
e dedo na boca.
Sabes o que te digo?
Coisas!
(mas com ar fofinho
e sopinha de massas)
É como diz o outro:
Tenho dito.

sexta-feira, 25 de julho de 2008

Porque sim!

No absurdo e inconclusivo
‘Porque sim!'
O completam-se torna-se inefável.
Arrastam-se roubos e rodopios
de ruminantes beijos
lacrados em semelhantes lábios.
Ávidos,
Insaciáveis,
Sôfregos!
Desesperados!!


Sente os sentidos – cala-te…
Toca o toque – cala-te e beija-me!...
Arranca a inocência – cala-te e beija-me agora!


Agora, o desejo frenético
Agora, a volúpia visceral
Agora, o ósculo ofegante
Anti-frívolo
Anti-volúvel
Alça libidinosa que escorrega no ombro;
O raspar adocicado da barba pelo pescoço;
Remoinho do cabelo frondoso;
Mãos essenciais (é poderoso!);
Dedos tácteis em cócegas imparciais!


- Ah! É esta a diferença entre
marquise e marquesa,
marquesa e marquise.
Marquise é nada!
Marquesa coisa nenhuma!
- Nada e coisa nenhuma –


- Tudo e alguma coisa –
(e MAIS alguma coisa)
Tudo ansiado,
Tudo esperado,
Tudo alcançado.
Olá Amor-Romântico! – doença mental
Viva Amor-Sensitivo! – doença vital


- Acorda!
(Rebola e rasga e o resto dos rrr…)
Deixa de dar nome às coisas,
olha que porra!
- Porque sim!
- É absurdo!

sábado, 28 de junho de 2008

Completam-se

E ela deixou de ser feita de palavras. Contudo, ainda possuía uma réstia de letras lá pelo meio. Agora, era feita de matéria amada, regia-se pelo sensível, traduzia-se na física através do absoluto da metafísica. Sentia-se mais feliz do que a felicidade inimaginável.
Caminhavam na areia macia da madrugada, como se pisassem com o maior dos cuidados as estrelas do céu. E assim viam nascer a aurora, na fímbria da despedida, sem se quererem libertar, prometendo que um dia mandavam tudo ao ar e não se iam embora! (Porque tenho que ir é pior do que está quase).
Ela, na sua Sabedoria organizada de santa, com uma distância de segurança do arriscar que ele tanto prezava e que em certa medida a irritava. Só queria um pouco da sua Loucura irresponsável e inteligente (ela adorava-a), da aventura e independência que não tinha a coragem de procurar.
“Completam-se” – diziam outros – “e têm tanto em comum”. Criavam sabores, achavam sentidos e tocavam emoções. Davam tanto e tanto ficava para dar.
O Amor só se define com um “Porque sim!” e assim é que é mágico (ou feérico), são eles que o descobrem à sua maneira.

E à medida que o amava mais e mais, também ela lhe roubava as filosofias.

domingo, 25 de maio de 2008

Avó

-Estás toda bonita.
-Foi a minha mãe.
-A tua mãe estraga-te. Já lanchaste? Tem lá dentro cenourinhas, bolos de arroz e daquelas bolachas que tu gostas.
-Húngaros?
-Isso...

-Ana Sofia, está a dar a novela.
-Vou já, Avó.
Eram os olhos azuis que harmonizavam a cara rosada que cozinhava a massa com cenoura e a sopa que eu tanto gostava.
Ganhava o dia quando a fazia rir, afinal tinha sido ela que me ensinara, em pequenina, a acalmar as borbulhas; que me ensinara...
"Anjo da guarda, minha companhia
Guardai a minha alma de noite e de dia".
-Obrigada pela visita, um beijinho ao Pedro e ao pai.
-Está bem, Avó.
(E nunca lhes entregava esse beijinho, mas despedi-me da Avó).


"Would you know my name if I saw you in heaven?
Would it be the same if I saw you in heaven?
Would you hold my hand if I saw you in heaven?"
(já lá vai meio ano.)

quinta-feira, 22 de maio de 2008

Rumo

Via-o partir, levado pelo metro, e ficava para trás com ânsia de mais. Era tudo tão rápido, mas tão profundo.
Depois ia embora, num vaguear apressado, trauteando musiquinhas com ritmos duvidosos (isto do Amor começara a torná-la pirosa, indo contra tudo o que pensava de si) e apercebia-se que percebera porque razão ele não gosta de chocolate.
Ao mergulhar naquele brilhozinho nos olhos via de que estes eram feitos; e deduziu, como se contasse um história, que ele já não precisava de mais, afinal já tinha a dose certa. E o sorriso... quando lhe sorria com ar de parvo dava vontade de lhe arrancar um pedaço de barba e levá-la para casa.
Eram aqueles minutos, por mais pequenos que fossem, que lhe faziam imaginar viagens sem rumo ("rumorumorumo") de mochila às costas, aldrabões destemidos e conversas com colheradas de gelado de caramelo com caramelo. Sonhos embalados por um gorro verde.

sábado, 3 de maio de 2008

Como nos romances a sério

O olhar dela voltara a brilhar como antigamente. Voltou a ter aquela estrelinha que tinha antes de partir para um lugar distante, que ela chegou mesmo a amar, onde se perdeu por infímas luzes.
Agora que vivia um dia de cada vez, saboreando o Sol e o Mar em fortes tragos, a sua pele escurecia levemente e tinha um novo cheiro a côco (como o dos biscoitos) que se acentuava nos dias de amuo quando ela se deitava na cama de maçãs.
Ele olhava-a assim, feliz, por entre as árvores, todas as manhãs, enquanto o vento tilintava o espanta-espíritos. Depois sentava-se na soleira da porta (ela rangia como as dos castelos das princesas), puxava do pensativo cigarro e em cada fio de fumo que lançava para dançar no ar via as carícias que lhe fazia com as pontas dos dedos enquanto esperava, sem pressas, que ela adormecesse nos seus braços, tal como haviam sonhado em outras quimeras. Recordou a noite que nenhum conseguia esquecer; repleta de risos, atrasos e bebidas («feérica!» - dizia ela), em que a tinha visto como uma fada envolvida em tanta música.
Era manhã de bons ventos, ela apareceu entre as cortinas de linho branco, quase sem se notar, com duas canecas coloridas nas mãos; trazendo, por carolice, a candura e a pureza no seu vestido fresco e um sorriso de «Bom dia!» nos lábios de ouro.
Quando a viu chegar, levantou-se, apagou rapidamente o cigarro e procurou os sapatos vermelho brilhante, mas só a encontrou descalça com ar de quem pergunta «Porque é que estás a olhar assim para mim?»
-Já estavas aí há muito tempo?
-Não, estava aqui a ver-te fumar, tinha curiosidade... Café?
Estendeu desastradamente a mão pequena ornamentada pelas pulseiras da sorte tentando não entornar nada.
-Sim, obrigado. Não estás a beber café, ou estás?
-Não - sorriu- nesta caneca só pára leitinho.
-O que foi?
-Quero olhar para nós.
-Como?
-Nos teus olhos.
-Porquê?
-Porque somos felizes.
Abraçou-a como se quisesse guardá-la nos seus braços, bem juntinha ao coração e deu-lhe um beijo na testa, daqueles que só ele sabe dar. Um ar, uma brisa, quem sabe, com todas as cores, intensidades e sentidos corria entre eles e, rebelde, brincava com os cabelos dela, como nos romances a sério.
-Sentiste?
Era o Amor que passava por eles, sem saber o que isso era.

segunda-feira, 28 de abril de 2008

Upa, Neguinho


Porque me lembra uma noite feérica. Repleta de sons, emoções, impulsos, cerveja e uma ida dispensável à Ribeira.

(eu e o Ti já não paramos de a cantar)

quinta-feira, 27 de março de 2008

Dia Mundial do TEATRO

"Dás-me amor, calor, emoção, adrenalina e uma alegria imensa.
Não amo nada como te amo,
Não dependo de nada como dependo de ti
e dedico-te a minha vida...
TEATRO!"


Feliz DIA MUNDIAL DO TEATRO!! : D
(se eu não fizesse um post destes, quem mais o faria?)

domingo, 23 de março de 2008

Auto-Conversa Domingueira

-Ai, fiquei enjoada. Aquele chocolate era doce demais. Não me admira que elas tenham diabetes!
-Pudera! Acabaste de beber água por cima do chocolate. Fazes cada mistura! Ainda ontem, quase que ias sendo apanhada a comer batatas fritas de pacote por cima do leite. Eram 2 da manhã!
-Oh cala-te! É mesmo bom.
-Tu muito gostas de me mandar calar. Olha lá, o que é que estás a fazer de pijama a estas horas?
-Estou a ressacar.
-A ressacar com um dia tão bonito lá fora? E com o Sol que está?
-É o que se faz a um domingo à tarde, lê-se «Os Maias» deitada na cama desfeita enquanto se pensa no que se vai comer a seguir.
-Assim ficas potinha. Porque é que não foste passear com os teus amigos?
-Vou amanhã.
-Uh... Tens uma caneta nova, toda cor-de-rosinha e tal. Voltamos aos tempos da 'Pink Botton', foi?
-Foi o meu pai que ma deu.
-Ai, estás tão seca hoje! Nem parece teu.
-É que nem te respondo...
-O que é que estás para aí a escrevinhar?
-Anda cá ver.
(Espreita por detrás das costas o caderno desfolhado)
-Ai, não me acredito! Tu estás a escrever as conversas que tens contigo própria!
-Então tu não és o meu «grilo falante»? Como é que eles chamam?... Ah! Já sei! Consciência?
-Estás degradante, sabias?

segunda-feira, 17 de março de 2008

O Lugar




"Já é noite
E o frio está em tudo o que se vê
Lá fora ninguém sabe que por dentro há vazio
porque em todos há um espaço que por medo não se deu
onde a ilusão se esquece do que o medo não previu.

Já é noite
e o chão é mais terra para nascer
A água vai escorrendo entre as mãos a percorrer
todo o espaço entre a sombra entre o espaço que restou
para refazer a vida que o medo não matou.

Mas onde tudo morre tudo pode renascer

em ti vejo o tempo que passou
vejo o sangue que correu
vejo a força que me deu quando tudo parou em ti
Na tempestade que não há em ti
arrastei-me para o teu lugar
e é em ti que vou ficar.

Já é dia e a sombra está em tudo o que se vê
Lá fora ninguém sabe o que a luz pode fazer
porque a noite foi tão fria que não soube acordar
porque a noite foi tão dura e difícil de sara.

mas onde tudo morre tudo pode renascer

Mas eu descobri a casa onde posso adormecer
Eu já desvendei o mundo e o tempo de perder
Aqui tudo é mais forte e há mais cor no céu maior
Aqui tudo é tão novo porque pode ser amor...

E onde tudo morre tudo volta a nascer

já é dia e a luz está em tudo o que se vê
Cá dentro não se ouve o que lá fora faz chover
...na cidade que há em ti encontrei o meu lugar
e é em ti que vou ficar. "
Tiago Bettencourt

sexta-feira, 7 de março de 2008

Um ano depois

Só hoje reparei que esta minha Lua fez um ano no passado dia 4.
Tanto já se passou.
Muitos sins e alguns nãos, novas inspirações, novos amores, o MESMO sonho, novas palavras, conversas, anseios, desabafos, canções, gritos de guerra!
Cresci, amadureci, estou a formar-me como gente.

Continuo a viver de Teatro e a andar pela Lua.

(Quem diria que no dia de um ano depois tivesse um motivo para mais inspiração?)

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008

Quem tem medo de finais felizes?

- Sempre foi mais do que "só" te despir. Tens mais do que isso, tens essência, tens pés na terra.
- E o desejo?
Levantou o sobrolho e mordeu um meio-sorriso matreiro. Fez deslizar as mãos pela cintura, puxou-a contra o seu peito, juntando harmoniosamente a camisola vermelha com o casaco bege, e beijou-lhe o pescoço, saboreando o cheiro do seu perfume.
- O desejo? Aparece-me nas pontas dos dedos enquanto te tiro as alças do vestido... ou na voluptuosidade do pestanejar no castanho dos teus olhos.
- Claro, politicamente correcto.
- E o que é que tem?
- Tens arte no sangue e sangue na guelra...
- ...tu também...
Fez de conta que não reparou, mas o ego dela subiu ligeiramente com o que considerava um elogio.
- Pões o teu charme nas palavras, já reparaste?
- Já, mas só desde aquela altura. Parece que foi há muito, não parece? O tempo passa e nós nem damos por isso...
- Se calhar até damos, mas estamos demasiado ocupados com a nossa vida para reparar. Ainda há tão pouco andavamos aí, sempre os dois, a passear (e a fazer asneiras) naquele jardim. Agora nenhum de nós está lá, ficaram as nossas saudades, e tenho quase a certeza que se alguém fizer pouco barulho e pensar em nós vai ouvir as nossas conversas sem sentido num daqueles cantos. (Sim, porque os jardins têm cantos) Tenho saudades...
- Porque a tua vida sempre foi feita de saudades, eu sei.
- Andas a ler umas coisas que não deves. - sorriu.
- Tens medo de finais felizes?
- Sei lá.
- Então porque é que inventas as conversas que vamos ter?
Nunca tinha feito essa pergunta a si mesma, poderia dizer-se que chegara a ficar com uma ponta de vergonha por tal, mas não tinha culpa. A sua imaginação era invadida por um vento de estrelas com aroma a ar e as palavras iam saltitando umas atrás das outras. Era assim que as conversas entravam na cabeça dela.
- Hum... Por causa do teu "je ne sais quoi" masculino!
A gargalhada soltou-se entre os dois. Ela passou-lhe a mão pela nuca, entrelaçou os dedos pelos cabelos dele e prendeu-o a si.
- Bem... voltando ao assunto... com que então é mais do que "só" me despir?