domingo, 17 de junho de 2007

Chuva


-Está a chover.
-Eu odeio a chuva.
-Porquê?!
-Lembras-te do dia em que nascemos?
Era Junho. Apesar do calor que se sentia, a chuva caía em pequenas gotas pousando rispidamente no chão. O Sol já se tinha posto, a Lua girava e saltitava de um lado para o outro e as nuvens acabavam de tapar as nítidas estrelas, aborrecendo dois gatos que tentavam adormecer numa varanda.
Ela estava sentada no jardim, num silêncio absoluto, sozinha, olhando para o céu com tal expressão como se tentasse decifrar os sons do vento.
Ele vinha caminhando com as mãos nos bolsos pelos trilhos amarelos, concentrando-se em cada pequeno passo sem rumo que dava.
O piar de um mocho distraíu-o e fez com que olhasse instintivamente para a frente. Viu-a e aproximou-se.
À medida que avançava só o partir das folhas era audível.
-O que é que estás a fazer?
-Shiu!... Estás a ver aquele ponto brilhante lá em cima?
-Sim, é uma estrela.
-Não não é. É um planeta.
-E daí?!
-Shiu! Deixa-me ouvir o que é que aquele ponto brilhante que dizes que é uma estrela está a dizer - e pôs a mão em concha atrás da orelha tentando ouvir melhor.
Ficaram os dois a olhar para o tal ponto brilhante no céu.
...
-Afinal o que é que aquela estrela ou lá o que era te disse?
-Disse que naquela noite de chuva iria conhecer um homem que iria nascer comigo e mudar o meu destino, mas que numa outra noite de chuva iria perdê-lo para sempre.

Não muito longe dali, um grupo de amigos tentava adormecer, contando piadas uns aos outros.