sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008

Quem tem medo de finais felizes?

- Sempre foi mais do que "só" te despir. Tens mais do que isso, tens essência, tens pés na terra.
- E o desejo?
Levantou o sobrolho e mordeu um meio-sorriso matreiro. Fez deslizar as mãos pela cintura, puxou-a contra o seu peito, juntando harmoniosamente a camisola vermelha com o casaco bege, e beijou-lhe o pescoço, saboreando o cheiro do seu perfume.
- O desejo? Aparece-me nas pontas dos dedos enquanto te tiro as alças do vestido... ou na voluptuosidade do pestanejar no castanho dos teus olhos.
- Claro, politicamente correcto.
- E o que é que tem?
- Tens arte no sangue e sangue na guelra...
- ...tu também...
Fez de conta que não reparou, mas o ego dela subiu ligeiramente com o que considerava um elogio.
- Pões o teu charme nas palavras, já reparaste?
- Já, mas só desde aquela altura. Parece que foi há muito, não parece? O tempo passa e nós nem damos por isso...
- Se calhar até damos, mas estamos demasiado ocupados com a nossa vida para reparar. Ainda há tão pouco andavamos aí, sempre os dois, a passear (e a fazer asneiras) naquele jardim. Agora nenhum de nós está lá, ficaram as nossas saudades, e tenho quase a certeza que se alguém fizer pouco barulho e pensar em nós vai ouvir as nossas conversas sem sentido num daqueles cantos. (Sim, porque os jardins têm cantos) Tenho saudades...
- Porque a tua vida sempre foi feita de saudades, eu sei.
- Andas a ler umas coisas que não deves. - sorriu.
- Tens medo de finais felizes?
- Sei lá.
- Então porque é que inventas as conversas que vamos ter?
Nunca tinha feito essa pergunta a si mesma, poderia dizer-se que chegara a ficar com uma ponta de vergonha por tal, mas não tinha culpa. A sua imaginação era invadida por um vento de estrelas com aroma a ar e as palavras iam saltitando umas atrás das outras. Era assim que as conversas entravam na cabeça dela.
- Hum... Por causa do teu "je ne sais quoi" masculino!
A gargalhada soltou-se entre os dois. Ela passou-lhe a mão pela nuca, entrelaçou os dedos pelos cabelos dele e prendeu-o a si.
- Bem... voltando ao assunto... com que então é mais do que "só" me despir?

3 comentários:

Carla disse...

Na maioria das pessoas, a paixão reflecte-se numa fase de estupidez parva (cujos sintomas são: ataques de riso irritantes, histerismo, blá blá blá, para mais informações consulte o seu farmacêutico). No teu caso, a paixão reflecte-se em estupidez, parvoíce e creatividade.

Beijinho.

Anónimo disse...

lembras-me um amigo, de seu nome Kika, que escreve em reflexos de estupidez, parvoice e criatividade a paixao. eu andei a tentar explicar essa picadela, em toda a minha estupidez, parvoice e (falta de) criatividade, e fiz-lhe um diálogo, como os teus, daqueles entre o mim e o mim mais qualquer coisa. e, como já te deves ter apercebido, eu tenho a estupida e parva e nada criativa puta da mania e, por isso, dou-me ao direito de colocar aqui esse mesmo diálogo, "talvez para ser diferente´, talvez para gostar de mim" (é uma luta entre auto-estima e altivez, que ainda não consegui resolver). cá vai:

"- tu és.
- o quê?
- não interessa, és isso?
- então porquê?
- porque sim.
- ah, então dá cá um beijo..."

(o "porque sim" tem muita força)

Anónimo disse...

:D

eu roubei-te uma frase!!!


e o que tu queres sei eu!!!