sábado, 3 de janeiro de 2009

A História do Sr. Elefante e da sua bonequinha

E, um dia, um Sr. Elefante apaixonou-se por uma boneca.
Então, esse "era uma vez" começa com uma bonequinha em terras de Dom Bigode, seu progenitor e excessivo protector, que a guardava em qual redoma de vidro, numa torre sineira no alto do seu castelo muito pouco encantado.
Todos as alvoradas, a boneca de narizinho arrebitado e olhos cor-de-burro-quando-foge lá engendrava mirabolantes planos, escondidos em tranquilos e inocentes passeios, em busca de descobrir novas e diferentes ruas, gentes malucas e admiráveis. E quando encontrou um tal Sr. Elefante, de barriguinha ronceirona, cabelo de mémé e sorriso do tamanho do mundo, dois pequeninos mas enormes corações rabiscados a vermelho despontaram nos olhos daquele rostinho de selene desenho animado.
Ele ensinou-lhe que afinal as borboletas não têm um pózinho mágico que as faz voar e ela riu-se (toda a gente sabe que as ex-lagartas, quando saem do seu casulo, ficam com uns perlimpimpins nas asas e é por isso que andam por aí). A querer retribuir, e a tentar dar bons conselhos, a bonequinha explicou-lhe porque é que não deveria engolir as chiclets. Mesmo assim, o Sr. Elefante não acreditou. Paciência.
Sabem o que é que aprenderam os dois? Que quando se dão beijinhos de olhos fechados, aparecem estrelas que escapam de dentro deles. E que os beijinhos à fada são realmente feéricos porque, além de serem pequeninos mas em repetitivas doses, contribuem para um pleno bem-estar tanto a nível físico como psicológico. O que, nas palavrinhas de pessoas como eu, quer dizer: São bons e fazem bem!
Depois de aprenderem, ensinarem e, acima de tudo, descobrirem, o Sr. Elefante disse à sua bonequinha que um dia a libertaria das barbas (ou melhor, do bigode) de Dom Bigode e ficariam juntos para sempre. Esse dia chegou, quer dizer, essa noite. Era uma noite bem fria (coitadinhas das estrelas, nem lhes arranjaram um casaquinho de lã para se agasalharem), mas de voz quentinha e guitarra de papel na mão, lá apareceu à nobilíssima janela da sua donzela amada, um ilustre elefante de infanção, mais do que preparado para lhe cantar as Janeiras (sim, os elefantes também cantam, não sabiam?). Ela ouviu-o atentamente, tão contente como se tivesse herdado uma loja de doces, repleta de bombons, rebuçados, chupa-chupas e gomas de todos os tamanhos e feitios. E, pé ante pé (será, talvez, mais correcto dizer-se 'pézinho ante pézinho', afinal a bonequinha é pequenina, já por isso é bonequinha), desceu as escadas do castelo, em silêncio, para ninguém ouvir, e foi abraçar o Sr. de tromba grande.
Então, o Sr. Elefante pegou na boneca-pintainho, pô-la debaixo do braço e prometeu tomar conta dela com muito cuidado e carinho. E assim foram viajar por esse mundo fora, procurando e encontrando os lugares que desde sempre quiseram visitar; sem ninguém a impedi-los do que quer que fosse.
E agora? Agora continuam a ser felizes. É bom, não é?

sábado, 1 de novembro de 2008

Hoje é o dia!
Vou cortar bem o cabelo,
pintar os olhos
e mostrar o que não devia.

Vou fumar Lucky Strike até dizer 'Chega!'
Vou sair à rua e vou ser uma pêga!

Uma puta triste, ouviste?!

terça-feira, 28 de outubro de 2008

183 Ovelhinhas

Os olhos da canseira afundavam-se em Morfeu (e havia ainda tanto por fazer), mesmo assim, e já soletrando muito mal as letras, numa quase dislexia de intelecto, puxou para trás o cabelo irritante, mas não selvagem como alguém dizia e fez não sei o quê.

Levantou-se, pegou no cachecol cor de diferente, enrolou-o à volta do pescoço, bateu com a porta, desceu as escadas e saiu para o frio.

Na racionalização, já tinha chegado aos Aliados (só porque lhe apetece ir lá), disse qualquer coisa ao ardina da esquina, partilhou o movimento das idas e vindas de S. Bento e deixou-se levar rua abaixo, puxada pelo cheiro da Ribeira. Passou pelas Flores, e lá chegada sentou-se perto do Douro. Contou 183 dias, meio ano, como as ovelhinhas que o outro sussurra a contar os “Amo-te”.

- Toca, meu amor, toca.

- Toco tudo o que tu quiseres.

- Ah?! Tu aqui?!

- Estou onde tu quiseres que eu esteja, a imaginação é tua.

- Mas tu és real. És, não és?

- Se tu sabes que sim para que é que perguntas? Para deixar isto bonitinho? Um pseudo-fingimento prosaico para benefício de uma estética quase inexistente? Diz lá que me amas para haver um momento lamechas e deprimente.

- Não digo!

- Então não digas.

- Oh, mas eu amo-te.

- Eh eh, já sabia. Eu também.

- Tu também o quê?

- Eu também…

- Ah, está bem.

- Vamos embora que aqui está frio?

- Vamos sim.

Ele levantou-a, pô-la debaixo do braço e aqueceu-lhe o nariz com um beijinho. Ela merecia, afinal, quase lhe tinha estragado a queridice intelectualizada.

- Vai tocar, amor, vai tocar que o Django já está a acabar e amanhã é um novo dia. Boa noite.

E adormeceu.

quarta-feira, 10 de setembro de 2008

- Dás-me boleia para o meu funeral?

domingo, 17 de agosto de 2008

Vicissitudes

Na noite em que foram jantar fora,
O Mickey não quis comer nada.
Não gosta de bifes de golfinho
Nem nada dessa mariscada.
A Minnie,
Agoniada,
Não quis estrelas-do-mar às rodelas,
Diz que tem pena delas,
Coitada!

Ficaram-se pelas batatas fritas
Com pouco sal.
Hum hum, perdão, com muito sal.

Quem estava na mesa ao lado?
E assim descobriram
Que o Noddy e a Hello Kitty eram namorados.
Mas o Noddy não engana ninguém
Com aquele guizo no gorro.
Pobre da gata com lacinho,

É vítima de violência doméstica.

Num lugar ao canto,
O Kurt Cobain,
O Máriozinho de Sá-Carneiro
E o Padrinho
Precisavam de mais um
Para jogar à sueca.
A Minnie levantou-se,
A meio do seu milionésimo beijo ruidoso,
E foi juntar-se a eles.


O Mickey ligou ao Donald
Para irem ver o Allo Allo,
Que nesse momento
Comia McNonas com soporíferos
Enquanto dava chocolatinhos
À sua Margarida!

sexta-feira, 8 de agosto de 2008

"...temo a banalidade do dia que vai seguir como quem teme a cadeia. (...)
O meu desejo é fugir. Fugir ao que conheço, fugir ao que é meu, fugir ao que amo. Desejo partir - não para as Índias impossíveis, ou para grandes ilhas ao Sul de tudo, mas para um lugar qualquer - aldeia ou ermo - que tenham em si o não ser este lugar. Quero não ver mais estes rostos, estes hábitos e estes dias. Quero repousar, alheio, do meu fingimento orgânico. Quero sentir o sono chegar como vida, e não como repouso. Uma cabana à beira-mar, uma caverna, até, no socalco rugoso de uma serra, me poder dar isto."

Livro do Desassossego - Bernardo Soares

sexta-feira, 1 de agosto de 2008

'Is it a crime to be this cute?'

Não, não é.
Porquê? Tens problemas?
E se for?
Fofura é formusura.
Não, é 'pupi', vá.

Não me olhes assim,
de pés juntinhos
e dedo na boca.
Sabes o que te digo?
Coisas!
(mas com ar fofinho
e sopinha de massas)
É como diz o outro:
Tenho dito.