terça-feira, 5 de janeiro de 2010

Cereja mal comida

Era meia-noite e meia e ela ainda comia cerejas.

Lá do alto, viu uma coisificação de mangas de capote que a deixou perturbada: um homem feito de massa com cabeça de carne picada e olhos de cereja mal comida encarrapitados na sua fronte. Tudo bem que já tinha visto homens batata frita - homens batata frita douradinha e estaladiça – mas nessa altura vivia uma dissonância cognitiva que elevava o seu status quo: seriam os psicólogos gente séria? Os psicólogos são uns mentirosos. Sim, sim, eles mentem às pessoas, dizem que vão fazer experiências com elas e depois, pimbas, fazem outras. Não, não, não é esse pimbas. Esse pimbas tem sabor e sabedoria. Eu saibo a caramelo, tu sabes a café. Eu sei a caramelo, tu sabes a café. (Tu sabes e eu sabia?)

Eis então que, deitadinho no seu divã freudiano (e não froidiano), a antropomorfização de macarrão grita cá para cima: E se eu te disse que um elefante e um rato são uma única e mesma pessoa? Da mesma maneira que um pintainho acaba sendo, afinal de contas, uma goma gigante de peluche?

Eram sete e meia da manhã e ela já não comia cerejas.

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