quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

- Hoje tive um sonho cor de algodão doce.
- Bem, isso é um sonho de ficar de barriga cheia. E não sonhaste com pipocas coloridas salpicadas na cama?
- Não, mas sabes o que é que eu acho? Como há máquinas de fazer pipocas, havia de haver máquinas de fazer tempo. Saía tempo aos bocadinhos de dentro de uma panela.
- Vinte minutinhos agora, meia horita depois...
- Sim! Assim o meu tic tic deixava de estar cá dentro a fazer toc toc estou aqui! sou a saudade! E a memória não recomeçava - o guarda saudades da cabeça.
- Porque é que o leite encolhe no microondas?
- Aha?
- Porque é que quando aqueço o leite no microondas ele encolhe?
- Porque é que estamos sempre a falar de comida?
- São necessidades homeostáticas. Por exemplo, quando não estás como gelatina de morango. É como se te desse beijinhos depois de comeres gomas.
- Ah, está bem.

2 comentários:

Anónimo disse...

É fantástico como consegues, em tão poucas palavras, mas escolhidas a dedo, fazer de uma metáfora uma estória e de uma estória uma metáfora. É como se essas metáforas mostrassem um universo feminino que apenas se revela segundo o signo das necessidades homeostáticas. Para além de um conjunto de cómicos de linguagem, aposto que seria melhor ver-te a representar estas pequenas peças que li atentamente. Parabéns, Sofes. Já estás em segundo na lista para fazermos um livro.

Lourenço Pais.

Inês Brito disse...

Adorei Sofia! Esta simplesmente mágico!! :')

E ler isto no estado em que estou animou-me um bocadinho muito grande. Usas truques com palavras fáceis, crias um mundo diferente, simples e complexo ao mesmo tempo, que deixa qualquer um maravilhado.

Beijinhooo,
(i)