quinta-feira, 12 de janeiro de 2012
- Não, é uma estrela.
- Uma estrela? E como é que ela foi parar aí?
- Então, caiu do céu e veio parar aqui.
- Mas as estrelas são grandes...
- Pois são, mas quando caem do céu vêm descendo e descendo e vão ficando mais pequeninas... Esta foi ficando mais pequenina e veio colar-se ao meu nariz.
- Ah...
E olhou com aqueles olhos de "também quero uma estrela no nariz!".
- Anda lá, bebe o teu leitinho com chocolate.
- Já bebeste o teu? Mostra!... Oh, o teu leite está branco! Quem tirou o chocolate do teu leite?
- Ninguém. Fui eu que quis sem chocolate.
- Porquê?
- Não sei.
- Porquê?
- Não sei... Vamos lavar as mãos que estão todas sujas das canetas de feltro?
- Sim, eu sabo. Tem aqui sujo de verde e liranja. Dás-me um abracinho?
- Um abraço? Dou, sim!
A menina da estrela no nariz ficou abananada e feliz. Levantou-se da cadeira e deu-lhe um abraço. A menina pequenina estava tão contente que apertou, com toda a pequena força que tinha, a menina da estrela no nariz contra si e perguntou:
- Somos amigas, sim?
domingo, 4 de dezembro de 2011
terça-feira, 29 de novembro de 2011
Pó de estrelas ou Azul, anil e Carmesim
- E como é isso?
- Então, por exemplo, as estrelas que tu mais vês são feitas de pó de estrelas e de leite. Por isso é que têm aquela cor amarela cremosa.
- Parecem feitas de leite creme…
- Pois é! Nunca tinha pensado nisso! A mim faziam-me lembrar queijo derretido.
- Mas a lua é que é feita de queijo. As estrelas não, não é?
- Exacto! Queres mais? Quando misturas pó de estrelas e água nascem estrelas brilhantes. E as cadentes? Sabes como são feitas as estrelas cadentes?
- Tu sabes?!
- Sim. Pó de estrelas e 7up. Metes o pó dentro da garrafa de 7up e as estrelas cadentes saem de lá disparadas!
- …
- Queres que te conte um segredo?
- Sim!
- Mas prometes guardar segredo?
- Sim, claro que sim!
- Há umas estrelas raras feitas de pó de estrelas e groselha que ficam carmesim e só os apaixonados as podem ver!
- Oh!... Azul, anil e carmesim…
- Diz?
- Azul, anil e carmesim…
- O que tem?
- Lembrei-me de uma história.
- Oh conta! Que história?
- Não sei.
- Não sabes? Então lembras-te de uma história e depois já não sabes?
- Não, não sei. Lembrei-me de uma história que está a nascer na minha cabeça.
- Que giro! E como é que é?
- Não sei… Se calhar vai ter três personagens: Azul, Anil e Carmesim.
- Vais ter personagens que são cores?
- Pois, não sei. Mas são tão fortes e tão bonitas…
- As cores?
- Também… e a sua forma e o seu som… Não sei…
- Tu não sabes nada… Sabes o que é isso? É de pensares demais. Pensa menos e sente mais! Vamos buscar pó de estrelas para brincar?
- Sim! E podemos experimentar com coca-cola?
quarta-feira, 20 de janeiro de 2010
- Bem, isso é um sonho de ficar de barriga cheia. E não sonhaste com pipocas coloridas salpicadas na cama?
- Não, mas sabes o que é que eu acho? Como há máquinas de fazer pipocas, havia de haver máquinas de fazer tempo. Saía tempo aos bocadinhos de dentro de uma panela.
- Vinte minutinhos agora, meia horita depois...
- Sim! Assim o meu tic tic deixava de estar cá dentro a fazer toc toc estou aqui! sou a saudade! E a memória não recomeçava - o guarda saudades da cabeça.
- Porque é que o leite encolhe no microondas?
- Aha?
- Porque é que quando aqueço o leite no microondas ele encolhe?
- Porque é que estamos sempre a falar de comida?
- São necessidades homeostáticas. Por exemplo, quando não estás como gelatina de morango. É como se te desse beijinhos depois de comeres gomas.
- Ah, está bem.
terça-feira, 5 de janeiro de 2010
Cereja mal comida
Era meia-noite e meia e ela ainda comia cerejas.
Lá do alto, viu uma coisificação de mangas de capote que a deixou perturbada: um homem feito de massa com cabeça de carne picada e olhos de cereja mal comida encarrapitados na sua fronte. Tudo bem que já tinha visto homens batata frita - homens batata frita douradinha e estaladiça – mas nessa altura vivia uma dissonância cognitiva que elevava o seu status quo: seriam os psicólogos gente séria? Os psicólogos são uns mentirosos. Sim, sim, eles mentem às pessoas, dizem que vão fazer experiências com elas e depois, pimbas, fazem outras. Não, não, não é esse pimbas. Esse pimbas tem sabor e sabedoria. Eu saibo a caramelo, tu sabes a café. Eu sei a caramelo, tu sabes a café. (Tu sabes e eu sabia?)
Eis então que, deitadinho no seu divã freudiano (e não froidiano), a antropomorfização de macarrão grita cá para cima: E se eu te disse que um elefante e um rato são uma única e mesma pessoa? Da mesma maneira que um pintainho acaba sendo, afinal de contas, uma goma gigante de peluche?
Eram sete e meia da manhã e ela já não comia cerejas.
sábado, 28 de março de 2009
quando eu morrer
meu amor vais ver
vai ser tão calmo
vai ser lindo de morrer
e à minha volta tudo vai ter luz
essa que é meu desejo ter
e como um truque de uma insólita magia
trazendo o nosso amor de volta à luz do dia
quando eu morrer
meu amor eu fico vivo nos teus gestos e em teu riso
por isso nunca deixes de sorrir
pois para o nosso amor viver é só o que é preciso
domingo, 25 de janeiro de 2009
A Loja dos Risos
-Ora muito bom dia! Em que lhe posso ser útil?
-Bom dia. Olhe, queria um riso novo, é que toda a gente goza com o meu.
-E tem alguma coisa em mente?
-Hum... queria qualquer coisa diferente...
-E que tal um riso nº3?
-Qual? O 'se-se-se'?
-Sim sim, o sibilante.
-Não me parece. Um amigo meu tem um desses.
-Então e o nº20? É o do 'cá-cá-cá'.
-Esse é parecido com o nº18, que eu já tenho, está lá no meio da minha caixinha, misturado com os outros.
-Já sei! Tenho aqui um perfeito para si, chegou esta semana, é o nº28. Completamente inovador!
-Ai sim? E como é que é?
-Isso tem de ser a menina a descobrir...
-E se não gostar? Posso trocar?
-Pode, não se preocupe. Leva aqui o talãozinho e se houver algum problema passe por cá.
-Quanto é?
É claro que não se diz o preço de uma gargalhada.