quinta-feira, 25 de outubro de 2007
Com gosto a Verão...
Na terra em que as pontas dos telhados entortam, o céu brilha mais do que em qualquer outro lugar.
Lá em cima, as estrelas andam de baloiço e jogam ao Uno, animadas com tanta batota à mistura. Umas dormem sem notar, outras comem batatas fritas e depois vão nadar.
Cá em baixo, ela tinha mudado a sua vida sem ninguém saber (e sem ela perceber). Tinha trocado o novo mundo pela velha nostalgia.
Ensaiou vidas, viu cruzadas, teve orgulho e aplaudiu até de madrugada. Conheceu engenheiros, bailarinas e cantou. Namoriscou o Harry Potter em inglês, brincou com laranjinhas que dizem 'Olá olá!', comeu gelados de caramelo com Chantily e riu com 'miquis' cozinheiros. Aprendeu a tocar guitarra e andou a pé à chuva.
Comprou anéis de prata à noite e devorou tartes de maçã. Fez ladrar cães robôs e pregou pins ao 'Adeus'.
Ensinou e aprendeu.
Aprendeu que os sonhos nem sempre se concretizam, e caiu. Mas levantou-se sozinha, e foi aí que aprendeu mais.
Só lhe faltou aprender a andar de bicicleta. *sorri* Ainda lhe falta aprender tanta coisa.
Olhou para os pés. O verde bandeira das havaianas fez-lhe, finalmente, sentir que tinha aprendido Verão. Sim, porque o Verão aprende-se.
domingo, 23 de setembro de 2007
Canção Simples
«Quero ver as cores que tu vês,
para saber a dança que tu és.
Quero ser o vento que te faz.
Quero ser o espaço onde estás.
Fazes muito mais que o Sol. »
porque não consigo deixar de a cantar.
para saber a dança que tu és.
Quero ser o vento que te faz.
Quero ser o espaço onde estás.
Fazes muito mais que o Sol. »
porque não consigo deixar de a cantar.
sábado, 1 de setembro de 2007
'Como nascem as canções
Sou feita de palavras, tu de notas músicas.
Misturo as letras com os acordes e as frases com os sons.
A minha boca de travessão sorri e os olhos de ponto final abrem ainda mais quando te vejo a chegar, lá de longe.
As minhas mãos de 'A' afastam os teus cabelos em 'ré' para ver melhor sos olhos de solos, e lês o que está escrito dentro do meu coração de frases (diz ser feliz).
da tua suposta voz, saem acordes de guitarra e o travessão, espantado, soltou um ponto de exclamação.
(É assim que nascem as canções).
Misturo as letras com os acordes e as frases com os sons.
A minha boca de travessão sorri e os olhos de ponto final abrem ainda mais quando te vejo a chegar, lá de longe.
As minhas mãos de 'A' afastam os teus cabelos em 'ré' para ver melhor sos olhos de solos, e lês o que está escrito dentro do meu coração de frases (diz ser feliz).
da tua suposta voz, saem acordes de guitarra e o travessão, espantado, soltou um ponto de exclamação.
(É assim que nascem as canções).
quinta-feira, 30 de agosto de 2007
segunda-feira, 27 de agosto de 2007
Sou feita de palavras
Sou feita de palavras, não de desenhos.
Sou feita de letras, de frases, de parágrafos, de pontuações.
À minha cara em 'O' juntaram-se dois olhos de pontos finais. O meu nariz, espantado, tornou-se em ponto de exclamação, fazendo a boca-travessão rir às gargalhadas. O cabelo feito de emaranhado das letras do alfabeto, tão longo como todas as palavras do dicionário e dentro do coração lia-se "SER FELIZ!" - com ponto de exclamação e tudo! Coloquei os brincos em forma de vírgulas e pus um ponto de interrogação no umbigo.
Estava na hora de olhar para o meu próprio umbigo e descobrir de que sou feita.
Já sabia que era feita de palavras, até à altura em que me disseram que afinal era feita de desenhos. Mentiam. Os únicos desenhos são feitos pelo meu lápis da imaginação. São meticulosos desenhos de letras feitos na minha cabeça. Nada mais.
Sou feita de palavras, não de desenhos.
Deixei ficar o ponto de interrogação no umbigo (mas só porque fica bem).
Peguei noutro ponto de interrogação, juntei-o a um acento cincunflexo e fiz um guarda-chuva. Já podia enfrentar a chuva de i's que ia lá fora.
Sou feita de letras, de frases, de parágrafos, de pontuações.
À minha cara em 'O' juntaram-se dois olhos de pontos finais. O meu nariz, espantado, tornou-se em ponto de exclamação, fazendo a boca-travessão rir às gargalhadas. O cabelo feito de emaranhado das letras do alfabeto, tão longo como todas as palavras do dicionário e dentro do coração lia-se "SER FELIZ!" - com ponto de exclamação e tudo! Coloquei os brincos em forma de vírgulas e pus um ponto de interrogação no umbigo.
Estava na hora de olhar para o meu próprio umbigo e descobrir de que sou feita.
Já sabia que era feita de palavras, até à altura em que me disseram que afinal era feita de desenhos. Mentiam. Os únicos desenhos são feitos pelo meu lápis da imaginação. São meticulosos desenhos de letras feitos na minha cabeça. Nada mais.
Sou feita de palavras, não de desenhos.
Deixei ficar o ponto de interrogação no umbigo (mas só porque fica bem).
Peguei noutro ponto de interrogação, juntei-o a um acento cincunflexo e fiz um guarda-chuva. Já podia enfrentar a chuva de i's que ia lá fora.
terça-feira, 24 de julho de 2007
Os Mundos Separados que Partilhamos
"Eu quero voar. Quero fechar os olhos, abrir os braços e voar, subir e subir e subir, atravessar nuvens e sentir a sua humidade na ponta da língua, trespassar o azul do céu com o azul dos meus olhos, e continuar, sempre, por aí acima. Quero sentar-me na lua e sentir o cheiro das estrelas. Quero ser engolida por um buraco negro, ser perseguida por uma estrela cadente. Quero espreitar o interior dos satélites, dançar nas suas asas.
E depois, regressar. Conhecer os mares, nadá-los, aprender os seus fundos. Perseguir peixes, ser engolida por uma baleia e adormecer no seu estômago. Descobrir grutas subterrâneas, desenterrar tesouros fabulosos. Ou simplesmente: respirar dentro de água.
Quero deitar-me na erva fofa de uma campo verde e fechar os olhos, ouvir o sopro do vento acariciar as árvores; ser engolida pela escuridão, respirar devagarinho, saborear a paz; e sentir que o tempo vai parando: como se o mundo esperasse por mim. Percebes isto? Sentir que o mundo espera por mim. Sentir que sou tão importante para o mundo que ele espera por mim.E depois, agradecer-lhe: devorando-o. Sei lá: subir árvores, andar de bicicleta, roubar nêsperas e atirar os caroços a quem calhar, colher flores, aprender a linguagem secreta dos gatos, fazer pão e comê-lo com manteiga, rasgar os livros de que não gosto, tocar violino no cimo de uma montanha, fazer aviões de papel e atirá-los do alto de um farol, colher caracóis nas bermas das estradas e depois libertá-los nos pomares, brincar com bonecas, abordar pessoas desconhecidas e adivinhar-lhes os nomes, caminhar pelos passeios e sorrir a quem passa.
Quero percorrer o mundo, cada centímetro do mundo, e apropriar-me dele, fazê-lo meu. Quero devorar vida, engolir felicidade; e depois, devolvê-la, através dos olhos, a quem amo, a quem um dia odiei. Quero beber a beleza do mundo e dos homens, embriagar-me de beleza, ser beleza. Destilar beleza. E depois, morrer: saciada. Deitar-me novamente na erva fofa do mesmo campo verde e fechar os olhos, ouvir o sopro do vento acariciar as árvores; ser engolida pela escuridão, respirar devagarinho, saborear a paz; e sentir que o tempo vai parando, parou: para sempre.
Quero tão pouco, afinal. Não achas?"
(Paulo Kellerman, "Os Mundos Separados que Partilhamos")
E depois, regressar. Conhecer os mares, nadá-los, aprender os seus fundos. Perseguir peixes, ser engolida por uma baleia e adormecer no seu estômago. Descobrir grutas subterrâneas, desenterrar tesouros fabulosos. Ou simplesmente: respirar dentro de água.
Quero deitar-me na erva fofa de uma campo verde e fechar os olhos, ouvir o sopro do vento acariciar as árvores; ser engolida pela escuridão, respirar devagarinho, saborear a paz; e sentir que o tempo vai parando: como se o mundo esperasse por mim. Percebes isto? Sentir que o mundo espera por mim. Sentir que sou tão importante para o mundo que ele espera por mim.E depois, agradecer-lhe: devorando-o. Sei lá: subir árvores, andar de bicicleta, roubar nêsperas e atirar os caroços a quem calhar, colher flores, aprender a linguagem secreta dos gatos, fazer pão e comê-lo com manteiga, rasgar os livros de que não gosto, tocar violino no cimo de uma montanha, fazer aviões de papel e atirá-los do alto de um farol, colher caracóis nas bermas das estradas e depois libertá-los nos pomares, brincar com bonecas, abordar pessoas desconhecidas e adivinhar-lhes os nomes, caminhar pelos passeios e sorrir a quem passa.
Quero percorrer o mundo, cada centímetro do mundo, e apropriar-me dele, fazê-lo meu. Quero devorar vida, engolir felicidade; e depois, devolvê-la, através dos olhos, a quem amo, a quem um dia odiei. Quero beber a beleza do mundo e dos homens, embriagar-me de beleza, ser beleza. Destilar beleza. E depois, morrer: saciada. Deitar-me novamente na erva fofa do mesmo campo verde e fechar os olhos, ouvir o sopro do vento acariciar as árvores; ser engolida pela escuridão, respirar devagarinho, saborear a paz; e sentir que o tempo vai parando, parou: para sempre.
Quero tão pouco, afinal. Não achas?"
(Paulo Kellerman, "Os Mundos Separados que Partilhamos")
domingo, 17 de junho de 2007
Chuva
-Está a chover.
-Eu odeio a chuva.
-Porquê?!
-Lembras-te do dia em que nascemos?
Era Junho. Apesar do calor que se sentia, a chuva caía em pequenas gotas pousando rispidamente no chão. O Sol já se tinha posto, a Lua girava e saltitava de um lado para o outro e as nuvens acabavam de tapar as nítidas estrelas, aborrecendo dois gatos que tentavam adormecer numa varanda.
Ela estava sentada no jardim, num silêncio absoluto, sozinha, olhando para o céu com tal expressão como se tentasse decifrar os sons do vento.
Ele vinha caminhando com as mãos nos bolsos pelos trilhos amarelos, concentrando-se em cada pequeno passo sem rumo que dava.
O piar de um mocho distraíu-o e fez com que olhasse instintivamente para a frente. Viu-a e aproximou-se.
À medida que avançava só o partir das folhas era audível.
-O que é que estás a fazer?
-Shiu!... Estás a ver aquele ponto brilhante lá em cima?
-Sim, é uma estrela.
-Não não é. É um planeta.
-E daí?!
-Shiu! Deixa-me ouvir o que é que aquele ponto brilhante que dizes que é uma estrela está a dizer - e pôs a mão em concha atrás da orelha tentando ouvir melhor.
Ficaram os dois a olhar para o tal ponto brilhante no céu.
...
-Afinal o que é que aquela estrela ou lá o que era te disse?
-Disse que naquela noite de chuva iria conhecer um homem que iria nascer comigo e mudar o meu destino, mas que numa outra noite de chuva iria perdê-lo para sempre.
Não muito longe dali, um grupo de amigos tentava adormecer, contando piadas uns aos outros.
sexta-feira, 27 de abril de 2007
Merda
Nem a loucura do amor, da maconha, do pó, do tabaco e do álcool
Vale a loucura do ator quando abre-se em flor sobre as luzes no palco
Bastidores, camarins, coxias e cortinas
São outras tantas pupilas, pálpebras e retinas
Nem uma doce oração, nem sermão, nem comício à direita ou à esquerda
Fala mais ao coração do que a voz de um colega que sussurra "merda"
Noite de estréia, tensão, medo, deslumbramento, feitiço e magia
Tudo é uma grande explosão mas parece que não quando é o segundo dia
Já se disse não foi uma vez, nem três, nem quatro
Não há gente como a gente, gente de teatro
Gente que sabe fazer a beleza vencer pra além se toda perda
Gente que pôde inverter para sempre o sentido da palavra "merda"
Merda! Merda pra você!
Desejo merda
Merda pra você também
Diga merda e tudo bem
Merda toda noite e sempre a merda
Vale a loucura do ator quando abre-se em flor sobre as luzes no palco
Bastidores, camarins, coxias e cortinas
São outras tantas pupilas, pálpebras e retinas
Nem uma doce oração, nem sermão, nem comício à direita ou à esquerda
Fala mais ao coração do que a voz de um colega que sussurra "merda"
Noite de estréia, tensão, medo, deslumbramento, feitiço e magia
Tudo é uma grande explosão mas parece que não quando é o segundo dia
Já se disse não foi uma vez, nem três, nem quatro
Não há gente como a gente, gente de teatro
Gente que sabe fazer a beleza vencer pra além se toda perda
Gente que pôde inverter para sempre o sentido da palavra "merda"
Merda! Merda pra você!
Desejo merda
Merda pra você também
Diga merda e tudo bem
Merda toda noite e sempre a merda
Caetano Veloso
domingo, 22 de abril de 2007
D. João de Molière
D. João: "Já não há vergonha nisto, agora, a hipocrisia é o vício da moda, e todos os vícios da moda passam por virtudes. O da personagem da pessoa de bem é o melhor de todos os personagens que se possa representar nos tempos que correm, e a profissão de hipócrita tem maravilhosas vantagens.
É uma arte em que a impostura é sempre respeitada, e mesmo que a descubram, não se ousa dizer nada contra ela, todos os outros vícios dos homens estão expostos à censura, e qualquer um tem a liberdade de os atacar de alto, mas a hipocrisia é um vício privilegiado, que fecha a boca a toda a gente, e goza em repouso de uma soberana impunidade. À custa de dissimulações vemos formar-se uma associação estreita à volta de todos os que tomam esse partido;
Quem atacar um deles, vê-se a braços com todos eles, e aqueles que sabemos que agem mesmo de boa fé sobre isso, e que são conhecidos por agirem com verdade: esses, digo, são sempre os instrumentos dos outros, deixam-se completamente enrolar por eles, e apoiam cegamente manipulados as suas acções. Quantos pensas que conheço que, por este estratagema, fizeram esquecer expeditamente as desordens da sua juventude, que fizeram um escudo com o manto da religião, e sob esse hábito respeitável gozam da permissão de serem os piores homens do mundo?
Bem se pode conhecer-lhes as intrigas, e saber o que são, não é por isso que deixam de ter crédito junto das pessoas, e algumas vezes em que baixem a cabeça, soltem um suspiro magoado, e rolem os olhos, é quanto basta para reparar no mundo tudo o quepudessem ter feito. É sob este abrigo favorável que me quero proteger e pôr em segurança os meus assuntos. Não tenciono deixar os meus doces hábitos, mas terei o cuidado de me esconder, e divertir-me-ei sem grande alarido. E se vier a ser descoberto, verei sem mexer um dedo toda a cabala tomar em mão os meus interesses, e serei defendido por ela de e contra todos.
Enfim, é esta a melhor maneira de fazer impunemente tudo o que quero. Erigir-me-ei em censor das acções de outrem, falarei mal de toda a gente, e só de mim terei boa opinião."
D.João, de Molière
acto V, cena 2
D.João, de Molière no TNSJ (Teatro Nacional São João)
14 - 28 de Abril
ter-sáb 21:30
dom 16:00
domingo, 8 de abril de 2007
Tua
Mal esse amanhecer sabia que o tão esperado dia tinha chegado. Veio de mansinho e nublado, espreitando à sucapa e, esperando um amor maior que eu. Sim, porque ele havia chegado. Chegado e destruído tudo de sólido que existia em mim, mas que iria renascer o meu espírito de alma perdida. Levando a minha energia para um lugar distante. E trazendo de volta o meu eu escondido, o meu eu amante, audaz e sonhador.Tinha violado a minha alma do modo mais delicado e perfeito que já houvera. Fez com que deixasse de gostar da minha vida e passasse a venerar a dele. Decorei o seu andar, o seu sorriso, a forma de como está ausente, o seu mundo! Apenas para o ter.A minha cruel e triste fortuna não o deixou. Perdi-o nas minha mãos, tal como a areia nos escapa entre os dedos. Fiz com que os meus sentimentos saissem do mais profundo escuro e chegassem a todo o universo, para que ele me desse uma chance, mas em vão. O egocêntrismo e a exigência apoderaram-se do seu corpo e mente. Não lhe deixavam um pouco de compaixão por mim. Sei que não respondeu por ele, aliás, ainda não respondeu, fico à espera do tal sim deslumbrante para toda a eternidade.
10/2005
*Agora já não faz sentido, mas continua a ser uma recordação*
sexta-feira, 6 de abril de 2007
Quarto Minguante
-A Lua é azul!
-Não é nada, é verde!
-Tu és daltónico, não distingues o azul do verde. -Oh...
O silêncio, envergonhado, também olhava para o quarto minguante.
-O céu está cheio de estrelas. Olha aquela!... E aquela!...
-Não apontes!
-Porquê?
-A Paulinha disse que não se deve apontar para as estrelas.
-Porquê?
-Diz que dá azar.
-Ah... Eu gosto de estrelas... fazem figuras.
As estrelas no céu fazem figuras.
-Fazem as figuras que nós queremos ver.
-É verdade que quando morremos nos transformamos em estrelas do céu?
-Não sei.
-Se, quando eu morrer, me transformar numa estrela, quero ficar perto da Lua, para puder vê-la bem quando estiver em Quarto Minguante.
-Tu e a mania do Quarto Minguante...
-Sabes, quando era pequena imaginava que um homem de pijama azul dormia na Lua.
-Quando eu era pequeno, formava palavras com a sopa de letras.
-Oh... não gozes.
Ele olhou-a como pela vez primeira, beijou-lhe a testa e sorriu...
-Tu não existes.
-"O Quarto Minguante enfeitiça-lhe o olhar, desde criança. E ela não sabe como é bom dormir na Lua."
-Não é nada, é verde!
-Tu és daltónico, não distingues o azul do verde. -Oh...
O silêncio, envergonhado, também olhava para o quarto minguante.
-O céu está cheio de estrelas. Olha aquela!... E aquela!...
-Não apontes!
-Porquê?
-A Paulinha disse que não se deve apontar para as estrelas.
-Porquê?
-Diz que dá azar.
-Ah... Eu gosto de estrelas... fazem figuras.
As estrelas no céu fazem figuras.
-Fazem as figuras que nós queremos ver.
-É verdade que quando morremos nos transformamos em estrelas do céu?
-Não sei.
-Se, quando eu morrer, me transformar numa estrela, quero ficar perto da Lua, para puder vê-la bem quando estiver em Quarto Minguante.
-Tu e a mania do Quarto Minguante...
-Sabes, quando era pequena imaginava que um homem de pijama azul dormia na Lua.
-Quando eu era pequeno, formava palavras com a sopa de letras.
-Oh... não gozes.
Ele olhou-a como pela vez primeira, beijou-lhe a testa e sorriu...
-Tu não existes.
-"O Quarto Minguante enfeitiça-lhe o olhar, desde criança. E ela não sabe como é bom dormir na Lua."
sexta-feira, 16 de março de 2007
A Pluma Caprichosa
E o destino passa por mim
como uma pluma caprichosa
Passa pelos olhos dum gato
Como o avião passa no céu do camponês
Como a cidade passa pelo convalescente
Que sai pela primeira vez
Nos olhos da mulher que não perdi nem ganhei...
Nos olhos que durante um segundo me compreenderam
E amaram
Na sua ternura quase insuportável
O destino passa...
No amigo que lentamente é puxado para o outro lado
Da razão
E um dia mergulha na sombra que trazia em si por
Resolver
O destino cumpre-se e passa
Na praia nocturna que as ondas visitam e deixam
Como as imagens que sem cessar me assaltam e
Abandonam
Na espuma que esmago contra a areia muito fria
Na mulher que me acompanha e comigo se perde na
Noite
Nos soluços de luz verde que um farol nos envia
O destino DETÉM-SE e passa
Na inesperada hora de felicidade
Vivida um pouco a medo
Como os amantes quando percorrem as ruas desertas
Dum jardim
Um pouco a medo
Como a breve noite de amor em que um homem se
Encontra e refugia
O destino DEMORA-SE e passa
Estou onde não devia estar
Mas basta
basta
basta...
Alexandre O'neill
domingo, 4 de março de 2007
Sonhar...
"Aos que se alimentam de sonho, chega o momento em que não podem viver. A realidade não perde os seus direitos. Raia o dia em que se impõe por força então o sonhador é colhido e triturado por ter esquecido. É o ponto trágico em que reconhece com espanto que não pode viver - que não sabe viver, e procura a morte, não para se aniquilar, mas como quem busca um sonho maior, um sonho sem contrariedades e de que se possa à vontade fartar. (...) o sonho na verdade não tem contrariedades nem limites e a vida esta cheia de asperezas. Por isso é bom e fácil sonhar. O pior é que quem se fartou de quimeras e de noites escarlates, não pode habituar-se à existência banal; quem viveu com mulheres imaginarias, não pode contentar-se com mulheres de viela. (...) as mesmas acções as mesmas dores, direis vós... ca fora é certo, mas dentro o cenário muda: o cenário está em brasa. Queres ser rei? Queres vingar-te?... sonha!"
(encontrei este texto por aí... algures... mas agradeço ao seu autor as suas sábias palavras)
*que o primeiro post comece... tal como um sonho que sonhei*
(encontrei este texto por aí... algures... mas agradeço ao seu autor as suas sábias palavras)
*que o primeiro post comece... tal como um sonho que sonhei*
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